segunda-feira, novembro 14, 2005

J. D. Salinger

Nove noites, nove cabeceiras necessárias para ler Nove Contos de Salinger.

O melhor: conhecem-se as personagens não pelas descrições mas pelos diálogos e as acções. Acho fabuloso um escritor não fazer uso extenso de descrições, existem muitos que dependem delas para quase tudo.

Estes pequenos contos que devoramos sem dar conta do tempo, fazem-me lembrar as crónicas semanais de Lobo Antunes, principalmente pela nostalgia das coisas pueris admirada na primeira pessoa como em O Homem Gargalhada. Assim como na subtileza dos diálogos, e as tão sui géneris personagens que passam a viver no nosso imaginário quão extraordinário se torna a sua paulatina descoberta.

Os contos, po
demos afirmar, têm uma curta duração, mas não desaparecem tão rapidamente da nossa memória, porque não há lugar a um final que encerre uma história ou a vida dos que a protagonizam, a história mantém-se em aberto, no nosso imaginário as possibilidades são imensas, e conclusões, essas também são deixadas em aberto para nós as escrutinarmos.
Não existe um padrão de ínicio, meio e fim. Estes contos, são como uma memória fotográfica como que isolada mas com um intrínseco sentido da continuidade da vida e da realidade, e por isso da sua exterioridade e anterioridade relativamente ao autor. As personagens e o desenrolar da história não dependem do autor, estes existem de forma autónoma, já existiam e continuarão a existir sem a sua presença. É aqui, que observamos o talento do criador, e também a sua humildade perante a realidade, a beleza está nela, a obra é maior, ultrapassa aquele por quem foi criada.


As personagens e a suas histórias continuam sem a nossa presença, sem que conheçamos um final, não existe a pretensão de uma moral da história. Não existem juízos de valor ou de facto.

Admiro a quem não tem pretensões, quem é humilde, a quem não vê a história apenas como um futuro tangível de deixar a marca.
O futuro para os escritores são os leitores, a marca deixam-me as personagens das histórias que leio e não os seus criadores.
Esta é para ti Saramago.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Nem mais! As personagens não são criadas mas sim mostradas. Parabéns, grande post!**

3:48 da tarde  
Blogger Li disse...

Obrigado Tico e Z!!!!fico contente que tenham prazer em ler o post!:)

11:21 da manhã  

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